"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

May 25, 2007

3

Toco eu gosto de tocar na água gosto gosto gosto a mão já está na água a mão na cara o fresco a boca aberta a água escorre pelo pescoço e entra a blusa branca a ficar molhada a mão na água na cara a mão como se já não fosse minha a mão o mar a casa atrás a varanda ainda consigo não olhar.
Apanho os sapatos a seguir os collant a cabeça ainda para baixo aproximo-me sem pressa da casa onde vivo com pressa de estar na casa onde vivo com ele faço de conta que afinal já sabia que ele hoje não ia estar foi assim que ficou combinado ele não estar não estar não estar não cheira a comida ainda não cheira a comida adoro esta casa branca subo os degraus dois a dois como se ele estivesse na varanda à minha espera à minha espera à minha espera a ver-me a ver-me a ver-me a gostar de olhar a saber o que eu estava a pensar a saber a adivinhar tudo sobre mim e a gostar a gostar o mar atrás de mim à minha frente a varanda sento-me estendo a mão não olho para não ver que ele não está ali ainda não está combinámos que ainda não estava quando eu estendesse a mão naquele dia.
Um copo de vinho o vermelho escuro transparente a escorregar ainda da berma para dentro a encher a cratera de um vulcão em repouso na mesa na varanda ao pé das cadeiras ainda não olho para o lado esquerdo não me levanto a correr confirmo do lado direito que a porta grande azul está fechada fechada a casa onde vivo o mar azul à frente não tenho pressa tenho pressa de provar o vinho escolho o sítio onde coloco os lábios escolho o sítio escolho prometi que as mãos não tocam as formas redondas do copo prometi o copo é maior que a minha mão prometi que segurava o copo com uma mão apenas uma mão tenho mais força na mão direita é por isso que escolho a mão direita ainda não aprendi a segurar o copo tenho medo que o vulcão entre em irrupção a lava vermelha as pontas dos dedos a agarrar a haste tão fina a haste o copo enorme demora a chegar aos lábios demora ai é bom demoro aqui na cadeira na varanda o mar azul o vinho vermelho escuro o calor bebo sem cuidado a cor vermelha no queixo olho para baixo a blusa branca ainda limpo o queixo com gestos bruscos fecho os olhos sinto o sol ouço o vai vem do mar lembro-me do mail misterioso a ária a casa antes da casa o andar adivinho o seu corpo enquanto se afasta a camisa branca a sair da cintura o casaco no ombro do lado direito ainda não cheira a comida a casa branca onde vivo ainda não cheira a comida talvez me apeteça uma salada feita sem pressa.
Abro os olhos devagarinho franzindo-os ligeiramente a claridade ainda o raio verde fica para outro dia quando estivermos juntos penso enquanto me levanto e descanso os braços no parapeito da varanda. A chave enorme ferrugenta a fechadura a porta eu gosto de atravessar o fresco e a sombra deste corredor sem nada a não ser o fresco e a sombra o pátio o terraço por cima tão branco a convidar a convidar a convidar olho para o lado esquerdo as portas grandes da cozinha abertas para o pátio a garrafa de vinho eu sabia corro todas as divisões da casa apesar de saber que ele não está sorrio sem querer por achar maluca esta coisa do copo de vinho na varanda a garrafa na mesa da cozinha

No comments: