"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

May 29, 2007

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Bom as beringelas os cogumelos vou ligar o computador há semanas que não me apetece comprar jornais não me consigo concentrar nos artigos apanho as notícias algumas na televisão ou na rádio no computador acabo por me perder com outras coisas tinha tanta esperança na Madame d’Abrantès tenho que procurar outros amantes a sedução também quero introduzir o tema da sedução mas depois agora queria abordar o tema dos amantes cheira a comida a casa onde vivo cheira a comida demoram a arrancar os computadores agora demoram a arrancar a televisão que horas serão já luz luz luz luz luz fica bonito o pátio iluminado eu gosto e se eu adormecer adormeço sem querer depois acordo e leio leio gosto de ler a meio da noite às vezes vejo bocados de filmes às vezes tenho vontade de ir desenhar ou escrever mas a maioria das vezes tenho preguiça e fico a ler a ler a pensar não a pensar não tenho que estar ocupada com outra coisa pensar só pensar não me faz bem a mim não me faz bem mas eles tocam e eu ouço claro fico na sala na sala ouço de certeza mas eu vou estar acordada.
Hum este cheiro a casa onde vivo cheira a comida agora cheira a comida levanto a garrafa a toalha vermelha pesada a aterrar sobre o tampo da mesa não está direita agora está o copo o prato os talheres o guardanapo amarelo as beringelas já estão o molho o molho de cogumelos e pimentos está quase hum roubo alguns cubinhos de queijo uma tacinha com molho picante hum não resisto mergulho um cubinho de queijo no molho picante hum hum alperces passo por água morna alperces maduros a mesa a ficar bonita festiva um golinho outro cubinho não resisto agora à mesa só quando estiver à mesa.
A mesa lá fora talvez está agradável uma noite bonita adoro as noites de verão “tus ojos mi recordam las noches de verano” onde está o cd este ano ainda não ouvi esta canção eu gosto de ouvir esta canção quando começam as noites quentes de verão na na na na na na na na na na na na na na na na na na na a toalha laranja com aqueles veios brancos fica uma mesa bonita.

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As calças brancas largas de algodão gasto a tee-shirt branca a romper-se aqui mas eu gosto a tee-shirt preta por cima as sandálias o telefone a tocar o cabelo já penteado molhado ainda molhado sabe bem ter o cabelo molhado nestes dias de verão o telefone a tocar a tocar a tocar sim olá está tudo bem obrigada sim diz diz quando depois de amanhã talvez depois digo qualquer coisa chegam hoje podem ficar cá claro não faz mal eu estou acordada dá-lhes o meu número acho que nunca vieram cá é fácil mas de noite podem não se aperceber do desvio Puccini Puccini não não é a história são os agudos mas eu baixo o som desculpa vim a correr espera espera espera pronto mas é isso são estes agudos não me canso de ouvir estou estou bem disposta não não não está bem mas não fiquem tristes se não aparecer vá beijinhos até logo.
Queijo de cabra molho picante maçãs tostas mistas os natas empadinhas há gelado bolachas integrais há chouriço chouriço assado em aguardente caseira ninguém morre de fome a garrafa de vinho em cima da mesa o copo no banco está no banco há vinho sumos água eles depois escolhem corto o queijo de cabra aos cubinhos enquanto preparo a salada o molho picante o mar azul à frente azul mais escuro agora o céu mais escuro agora a sala não se ouve quase não se ouve ai estes agudos mais alto mais alto mais alto mais alto mais alto mais alto sim sim sim sim sim o copo agora o copo regresso à cozinha os miúdos se calhar querem ficar no pátio de qualquer modo preparo o quarto azul também eles ficam no quarto do fundo tem casa de banho aquela salinha de apoio sim ao longo da estrada há seis ou sete desvios que coincidem com os acessos às praias depois é uma estrada interior de terra batida que acompanha as casas não mais perto da estrada.

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É bom tomar duche no pátio o pátio é grande e comprido estende-se paralelo à praia abro a torneira e deixo temperar a água a roupa atirada sem cuidado para o banco a mão estendida a experimentar a água está boa a música a encher a casa o duche as beringelas vou até ao banco o copo acompanha-me pelas divisões deixo-me ficar quieta debaixo da água as mãos no cabelo a empurrar o cabelo para trás a água na cara nas costas nas costas nas costas.
Porquê este fascínio por Napoleão tão presente na obra de Stendhal igual ao fascínio que o meu pai tem pelo Napoleão igual é a mesma a origem deste fascínio tentei pegar na história da Madame d’Abrantès na esperança de que tivesse existido uma relação escandalosa com o General Junot na esperança de que ela fosse portuguesa na esperança de encontrar uma história de amor desmesurada a homenagear no meu blog com fotografia e tudo a Amante de Junot quem foi Madame d’Abrantès introduzi há uns dias o tema dos amantes no meu blog eu gosto do tema mas afinal Madame d’Abrantès é francesa de gema acima de qualquer suspeita e esposa legítima do Duque d’Abrantès General Junot titulo que ganhou como prémio de nos ter invadido não agora acho que já estou a inventar a Revolução Francesa a importância da Revolução Francesa regulo a temperatura mais fria agora mais fria estes fios de água fria misturados com a água ainda morna mais fria agora mais fria mais fria mais fria ai sabe bem a toalha a toalha a toalha.

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Olho para cima os braços abertos em cima o céu azul ainda uma claridade tranquila o ar morno o corpo peganhento um duche no pátio ali mesmo está decidido antes Puccini sim Puccini a acompanhar a salada o duche o final do dia o princípio da noite talvez o som enche rapidamente os espaços que percorro na casa no pátio no quarto onde escolho a roupa um duche quase frio quase mas morno ainda beringelas é preciso deixar as beringelas preparadas antes do duche lavo as mãos passo pela sala de estar o livro ali está ali não não está ali onde está o livro a garrafa em cima da mesa na cozinha corro até à cozinha do outro lado do corredor sem nada a não ser o fresco e a sombra ao lado da garrafa o livro a página marcada “Corte as beringelas em quatro pedaços verticais. Salpique-as com limão, sal, alho, pimenta e salsa. Deixe-as durante 1 hora ao ar” a boca aberta em espanto olho à minha volta à minha volta à minha volta.
Lavo as beringelas o limão a salsa fresca à frente o mar azul volto-me o copo está vazio sorrio o mar azul à minha frente a areia deitada a convidar o mar a aconchegá-la com um lençol transparente e doce corto a beringela em quatro pedaços verticais o livro aberto na página marcada estão a esta hora ainda estão pessoas na praia à noite talvez façam fogueiras os miúdos às vezes sim mas também fazem festas em casas uns dos outros e partem à procura de discotecas longe da vila.

May 25, 2007

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Toco eu gosto de tocar na água gosto gosto gosto a mão já está na água a mão na cara o fresco a boca aberta a água escorre pelo pescoço e entra a blusa branca a ficar molhada a mão na água na cara a mão como se já não fosse minha a mão o mar a casa atrás a varanda ainda consigo não olhar.
Apanho os sapatos a seguir os collant a cabeça ainda para baixo aproximo-me sem pressa da casa onde vivo com pressa de estar na casa onde vivo com ele faço de conta que afinal já sabia que ele hoje não ia estar foi assim que ficou combinado ele não estar não estar não estar não cheira a comida ainda não cheira a comida adoro esta casa branca subo os degraus dois a dois como se ele estivesse na varanda à minha espera à minha espera à minha espera a ver-me a ver-me a ver-me a gostar de olhar a saber o que eu estava a pensar a saber a adivinhar tudo sobre mim e a gostar a gostar o mar atrás de mim à minha frente a varanda sento-me estendo a mão não olho para não ver que ele não está ali ainda não está combinámos que ainda não estava quando eu estendesse a mão naquele dia.
Um copo de vinho o vermelho escuro transparente a escorregar ainda da berma para dentro a encher a cratera de um vulcão em repouso na mesa na varanda ao pé das cadeiras ainda não olho para o lado esquerdo não me levanto a correr confirmo do lado direito que a porta grande azul está fechada fechada a casa onde vivo o mar azul à frente não tenho pressa tenho pressa de provar o vinho escolho o sítio onde coloco os lábios escolho o sítio escolho prometi que as mãos não tocam as formas redondas do copo prometi o copo é maior que a minha mão prometi que segurava o copo com uma mão apenas uma mão tenho mais força na mão direita é por isso que escolho a mão direita ainda não aprendi a segurar o copo tenho medo que o vulcão entre em irrupção a lava vermelha as pontas dos dedos a agarrar a haste tão fina a haste o copo enorme demora a chegar aos lábios demora ai é bom demoro aqui na cadeira na varanda o mar azul o vinho vermelho escuro o calor bebo sem cuidado a cor vermelha no queixo olho para baixo a blusa branca ainda limpo o queixo com gestos bruscos fecho os olhos sinto o sol ouço o vai vem do mar lembro-me do mail misterioso a ária a casa antes da casa o andar adivinho o seu corpo enquanto se afasta a camisa branca a sair da cintura o casaco no ombro do lado direito ainda não cheira a comida a casa branca onde vivo ainda não cheira a comida talvez me apeteça uma salada feita sem pressa.
Abro os olhos devagarinho franzindo-os ligeiramente a claridade ainda o raio verde fica para outro dia quando estivermos juntos penso enquanto me levanto e descanso os braços no parapeito da varanda. A chave enorme ferrugenta a fechadura a porta eu gosto de atravessar o fresco e a sombra deste corredor sem nada a não ser o fresco e a sombra o pátio o terraço por cima tão branco a convidar a convidar a convidar olho para o lado esquerdo as portas grandes da cozinha abertas para o pátio a garrafa de vinho eu sabia corro todas as divisões da casa apesar de saber que ele não está sorrio sem querer por achar maluca esta coisa do copo de vinho na varanda a garrafa na mesa da cozinha

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A casa tem uma varanda não faço ideia se está alguém nessa varanda se está alguém perto das janelas não faço ideia o que faço aqui tão próximo de espreitar uma casa que ainda não é a casa onde vivo a casa onde vivo é a seguir mais perto da curva uma pedra vou colocar-me em cima da pedra para espreitar escolhi a janela ai este cheiro este calor esta ária o mar tão perto este final de dia que maluqueira uma sala enorme com móveis desirmanados e antigos dispersos por cantos e paredes dois grandes tapetes em tons de vermelho usado o chão em madeira a luz a brincar num jogo de sombras e claridades envolventes densas o pó em desenhos verticais aqui e ali um cheiro a misturas perigosas de tão boas a convidar a provar quero entrar quero entrar quero entrar neste momento já tenho o olhar esquecido de não estar a olhar para a casa onde vivo.
Ninguém, não vejo ninguém nem um movimento nem uma sombra nem ninguém a olhar para mim e a expulsar-me desta casa que não é a casa onde vivo salto para o chão e aproximo-me de novo da estrada os miúdos continuo acompanhada principalmente por miúdos adoro quando ele veste estas calças castanhas leves a camisa branca sem gravata vou atrás dele guardo alguns metros de distância vou a olhar para ele o casaco no ombro a camisa branca também sai pela cintura do lado esquerdo do lado esquerdo a esta hora é bom sentir uma aragem a percorrer-nos é bom as mangas dobradas para cima até à curva do braço o relógio redondo hoje está com o relógio redondo os sapatos castanhos ainda se ouve a ária caminhamos descontraídos a esta hora neste caminho é impossível não caminharmos descontraídos.
Continuação de um dia bom, digo baixinho a sorrir antes de virar para a direita eu viro para a direita antes dele talvez amanhã vá atrás dele o caminho para a casa onde vivo ainda não está arranjado mas tem o desenho de um caminho tem areia e pedras pequeninas que se sentem nos pés quando andamos a casa tem um único piso e tem uma varanda com cinco degraus que dá directamente para a praia com cinco degraus gosto de me sentar nos degraus às vezes.
A casa onde vivo está pintada de branco e tem um grafiti há muito tempo que tem um grafiti uma onda azul com a curva suave e grande para dentro a desenhar uma superfície sólida e polida de tão perfeita fresca por dentro a apetecer tocar aquela parede e a espuma branca por cima a confundir-se com a cor branca da parede ninguém está a surfar aquela onda não é preciso somos nós que sarfamos aquela onda quando a olhamos assim na parede da casa onde vivo a onda está na parede do lado esquerdo no sentido da praia não não fui eu devem ter sido os miúdos mas eu deixei ficar a casa inspirada no conceito das casas por dentro todas as divisões viradas para um pátio interior o pátio interior com um lance de escadas que dá acesso a um terraço sobre as divisões em baixo a varanda comprida sobre a praia os cinco degraus a porta de entrada de madeira azul escuro pesada a porta a tinta a estalar aqui e ali.
Sigo pelo caminho até ele se confundir com a areia com a praia com a praia o mar azul a casa onde vivo descalço-me sem pensar que me estou a descalçar a areia está quente é branca a areia contorno a casa pela praia sem me voltar para ela não olho para a onda olho para o mar a maré está baixa a água vem repousar na areia com uma ternura fresca num vai vem doce com a mão direita vou empurrando os collant para baixo em gestos quase de desequilíbrio ah a pele nua sobre a areia sinto a presença da casa atrás mas não a olho guardo o olhar para depois quando já não aguentar mais não olhar gostava claro que gostava que estivesse na varanda quando me voltasse gostava claro mas sei que não está mas só vou ter a certeza quando me voltar por enquanto olho o mar com a esperança de que ele esteja na varanda.

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O asfalto cinzento claro pelo sol ou pelos anos não sei prolongava-se até à curva ao fundo na berma da estrada pequenos cactos verdes alguns com a cor esbatida como margens apesar do vento empurrar areia para dentro deste traço largo com buracos aqui e ali preenchidos pela areia deste ano ou do ano passado.
Dos dois lados havia pessoas dos dois lados ao longo do caminho a mistura dos cremes e da água salgada secos na pele as pranchas de surf a tiracolo os calções compridos os fatos abertos e descaídos até à cintura ainda com o mar por cima sem poder entrar.
Eu estava de saia cinzento dark escuro mesmo e uma blusa branca àquela hora a querer sair já pela cintura os fatos abertos até à cintura o mar eu abria o segundo ou o terceiro botão aquele já próximo de em princípio não poder abrir mais botões a deixar entrar o sol e o mar que me chegava através do som e do cheiro.
Do lado direito a praia para trás ficava a vila onde trabalhava ficava o museu do futuro ficava a sala de trabalho do primeiro andar com as portas grandes abertas sobre um terraço enorme com laranjeiras e gerânios e o ar do mar e cadeiras e mesas a convidar a conversarmos e a estudar ali e a tirar os sapatos às vezes.
No final do dia o mail misterioso a desejar a continuação de um dia bom a curva mais perto já ainda este calor estes miúdos num regresso breve às casas de verão o mar azul esta ária do lado direito sempre a mesma ária misturada com o barulho das ondas a namorar a areia e o cheiro de comida misturado com o cheiro do mar sinto-me atraída tão atraída tão atraída a curva antes da curva a casa antes da casa o mail misterioso esta ária sempre a mesma ária o final do dia este calor que atravessa a blusa branca e se instala no corpo peganhento com a humidade salgada de um mar a alguns metros.
Do lado direito um caminho feito de tábuas de madeira alinhadas tão alinhadas ladeado por areia e arbustos e árvores baixinhas a casa de madeira com as janelas do piso térreo abertas e cortinas em movimentos doces aproximo-me não das janelas mais evidentes as que estão neste momento mesmo à minha frente não contorno a casa pelo lado esquerdo e acompanho as paredes com a mão como se fosse uma miúda não como se fosse um ladrão não ainda não vou olhar para esta não posso devo guardar ainda por instantes este descontrolo não ouço cães só a ária misturada com o som do mar a alguns metros.

May 21, 2007


A miúda e o mar

- Mar!, Mar!
(o Marinheiro del Sur atravessava a rua para o outro lado fazendo de conta que não via nem ouvia a miúda)

- Marinheiro del sur!

- Miúda?!, Olá! Agora vou ter com amigos. Pensei que um gato te tinha comido a língua…há muito tempo que não dizes nada…

- O Mar sabe que eu estou a aprender a falar consigo. Não quero estar ao pé de si sem ser capaz de acabar as frases que começo…

- Ah, bom, e está a correr bem esse exercício?

- Está!

- E já pensaste que quando fores capaz de terminares as frases que começas eu posso já não estar interessado nem em ouvir o princípio?

- Nesse caso ter-me-ia enganado em relação a si e o Marinheiro del Sur não seria uma pessoa com piada …

- Estás a provocar-me?

- Estou!

- Adeus!

O Marinheiro del Sur, visivelmente incomodado, respira fundo, volta atrás e diz com um ar aparentemente calmo

- diz, querias alguma coisa?

- Queria saber o que quer dizer ser amante. Isso é bom ou é mau?

- Alguém te chamou isso?

- Sim…

- Quem?

- tu!

- Eu? Quando? Porquê? Não me lembro…

- Depois da noite que eu passei no cais, ao pé do teu barco

- Ah, sim…

May 3, 2007

"Os cínicos e os moralistas estão de acordo quanto a colocar as voluptuosidades do amor entre os prazeres ditos grosseiros, entre o prazer de beber e o de comer, declarando-os, contudo, visto que asseguram poder viver-se sem eles, menos indispensáveis que os outros. Do moralista espero tudo, mas espanta-me que o cínico se engane nesse ponto. Admitamos que uns e outros tenham medo dos seus demónios, quer lhes resistam, quer se lhes abandonem, e se esforcem por aviltar o seu prazer, a fim de lhe tirar o poder quase terrível, ao qual sucumbem, e o seu estranho mistério, em que se sentem perdidos."

May 1, 2007