"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

Jan 29, 2007

Jan 28, 2007

Schuiten, a menina inclinada

A miúda e o mar

- Vamos voltar para trás!
- Que disse, Capitão?!
- Preciso de ter a certeza…Regressamos!
- Mas, Capitão…
- A amizade e o amor são mais raros do que um punhado de pérolas! Quero ouvi-la prenunciar o meu nome! A miúda sabe o meu nome! Porque é que nunca me chama pelo meu nome?
- A miúda… o seu nome…Capitão, de que é que está a falar? O que é que se passa consigo?
- Não podes entender…eu sei. Mas é preciso voltar.



A miúda estava muito agitada. No porto, olhava o mar com os olhos de esperar. Ele tinha partido há poucos dias. Era impossível o seu regresso tão cedo. Mas ela precisava de lhe dizer que conseguia. Não. Ela precisava de conseguir.

Quando se conheceram, quase todas as pessoas o tratavam por Capitão. E a miúda durante muito tempo chamou-o assim. Quando começaram a ficar amigos a miúda já não queria dizer Capitão mas não conseguia chamá-lo pelo seu nome próprio. Uma vez o marinheiro del sur tinha-lhe dito que havia pessoas que o tratavam por um nome diferente mas eram pessoas que estavam muito próximas dele. A miúda percebeu que não fazia parte dessas pessoas. Mas nessa altura eram amigos há muito pouco tempo.

Agora, a miúda teria que conseguir chamar o marinheiro del sur pelo seu nome próprio sem perguntar se o podia fazer. Tinha que acreditar que estavam agora mais próximos um do outro. Tinha que arriscar dizer…Mar! Nesta história…Mar.

Será que o marinheiro del sur, quando regressar, ouvirá a sua amiga pronunciar o seu nome verdadeiro?

Havia ainda outra coisa que a miúda precisava de fazer. Meter-se com o marinheiro del sur! Não ficar à espera que ele a chamasse. Afinal, quem sabe o marinheiro del sur não tinha também medo, às vezes, como ela?

Muito distante do porto…um contorno diferente no horizonte…a miúda levantou-se de repente!

O marinheiro del sur não a podia ouvir mas a miúda gritava no porto o seu nome verdadeiro, inclinada para o mar…como tantas vezes fazia, sozinha…será que vai ser capaz?

Tradução livre do diálogo da página de Vittorio Giardino, a propósito de uma reflexão sobre o que é a cultura

Ele: - Está bem, há alguns buracos mas ao menos não há ninguém
Ela: - Quem queres que esteja no meio destas pedras? Quando penso que estou na Grécia e que não fomos nem a Atenas nem a Epidauro

Ela: - Antes a cultura grega interessava-te
Ele: - Passei o ano inteiro a falar de Homero aos meus alunos (que de resto se estão completamente nas tintas). Tenho vontade de o esquecer um pouco, é natural

Ela: - Posso saber para onde vamos?
Ele: - Sim, mas não neste buraco cheio de turistas em bermudas

Ele: - Parece que este caminho vai dar às ruínas de um templo de Apolo…Olha Cathy! Ali!
Ele: - Diz?

Ela: - Estou cansada
Ele: - Perfeito. Ficamos aqui

Ela: - Aqui?!
Ela: - Mas não há nada. Não há nada à venda aqui, nenhum serviço, não há electricidade…é o vazio!

Ele: - Precisamente. Um vazio em harmonia com o universo

Jan 21, 2007

R de

"Je voudrais, sans la nommer,
Vous parler d'elle
Comme d'une bien-aimée,
D'une infidèle,
Une fille bien vivante
Qui se réveille
A des lendemains qui chantent
Sous le soleil.

C'est elle que l'on matraque,
Que l'on poursuit que l'on traque.
C'est elle qui se soulève,
Qui souffre et se met en grève.
C'est elle qu'on emprisonne,
Qu'on trahit qu'on abandonne,
Qui nous donne envie de vivre,
Qui donne envie de la suivre
Jusqu'au bout, jusqu'au bout.

Je voudrais, sans la nommer,
Vous parler d'elle.
Bien-aimée ou mal aimée,
Elle est fidèle
Et si vous voulez
Que je vous la présente,
On l'appelle
Révolution Permanente !"

Georges Moustaki

estado de espírito

estado é diferente de Estado!
Podemos estar em estado fazer qualquer coisa
ou não estar em estado de fazer nada
Quando o Estado for completamente privatizado
todos os estados são possíveis

Um Estado único é democracia representativa
Nós queremos democracia pura
Nós queremos o Estado na bolsa
Nós queremos comprar o Estado
Igualdade de oportunidades!
Já estou mesmo a ver o Joe Berardo a comprar o Palácio de São Bento

Antes da constituição de sociedades jurídica e politicamente organizadas já havia
o estado de graça associado ao clero,
o verdadeiro status, associado à nobreza
e o terceiro estado , ligado às obrigações
era este o estado das coisas

Quando não sabemos bem em que estado estamos organizamo-nos para debater em profundidade um tema
São os chamados estados gerais
Podemos organizar os estados gerais da cultura, do ensino, ou do próprio Estado

Não me lembro se ainda existe o Estado de direito no qual os poderes públicos estão sujeitos ao respeito da legalidade através do controlo jurídico
Também não me lembro se ainda existe o Estado de providência que é quando o Estado intervém activamente nos domínios económico e social a pensar nos cidadãos

No fundo estamos num estado de transição
Os assuntos de estado ainda têm a ver com o interesse público
Mas de uma maneira mais moderna

Existe muita proactividade em Portugal neste momento tanto que desde o vinte e cinco de abril ninguém tinha feito um golpe de estado tão bem feito
E também há manifestações e
Também ninguém se magoou a sério

No fundo estamos a copiar as boas práticas de outros países que já estão mais avançados
É a nova modernidade

Já nem nos precisamos de preocupar com a constituição


Também existe o estado de exaltação que é o meu Estado
A Paixão é um Estado soberano que preconiza a Revolução

Jan 17, 2007

"Eu não tenho filosofia: Tenho sentidos"
Alberto Caeiro


"Pornographie
Philosophie du monde d'aujourd'hui"
Georges Moustaki

A palavra livre numa cidade livre

A igreja e o estado. Séculos sem descobertas

Uma utopia igualitária. Um parágrafo dedicado a Tomás Moro em que me arrepio quando leio que a disciplina é indispensável nesta sociedade igualitária

Cultura são conjuntos de convicções partilhadas, de maneiras de ver e de fazer que orientam mais ou menos conscientemente o comportamento de um indivíduo, de um grupo
De novo a questão das identidades

cultura é o acto de cultivar uma Terra

Vittorio Giardino

Jan 15, 2007

Der blaue Engel

A miúda e o mar

A miúda estava há horas com o olhar fixo no mar. Tinha arrefecido e adivinhava-se no corpo o frio. Na alma, não se adivinhava nada. Impossível compreender esta figura misteriosa de mulher.

Muito baixinho, com a voz doce de quem conhece por dentro a sedução, alguém começa a cantar próximo dela, tão próximo dela:

“ Morena dos olhos d'água, tire os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar

O seu homem foi embora prometendo voltar já
Mas as ondas não têm hora, morena, de partir ou de voltar
Passa a vela e vai-se embora, passa o tempo e vai também…”

A miúda voltou-se. Era um amigo. Com os olhos cheios de ternura disse-lhe:
- Amar é não ter juízo
Levantando-se, fez-lhe uma festa leve nos cabelos e afastou-se, sozinha, com o mar dentro dela

Jan 14, 2007

as prisões não têm hortênsias e poesia

habituamo-nos mas se um dia conseguir sair daqui já as mãos estarão fodidas de agarrar estas grades e as mulheres também que ninguém perde tempo a esperar por mim é o perdes deixaram-me por a bandeira nacional à janela e sinto-me como quando mijamos a marcar o território que já me esqueci do que fiz para merecer este trono sobre o oceano onde a humidade dourada percorre as paredes e onde pressinto a presença do sr. santo cristo que me entregou as marés à sua guarda e já lhe expliquei que me recuso a ser acólito em eucaristias onde quem se ajoelha divide os trocados entre o padre que é esperto como o caraças e a freirinha que muitos prazeres intemporais lhe deve dar ainda hoje enxuta como é com a sua bolsinha de veludo depois de ouvirmos falar em tons menores das cruzadas e em tons maiores numas coroas para a causa e eu é que estou preso o caraças maus são os que já abriram os braços para abraçar quem amam e os braços não cobriram nem um infinitesimal do território onde posam os pés

o sr.santo cristo com hortênsias e poesia

"o meu navio é habitar no vento
é um interior de pássaro ao relento
um morar sem saber onde se mora"
Natália Correia

Jan 10, 2007

Os impostos incomodam-me
Eu não gosto dos impostos
Não existe modernidade nos impostos
Os impostos existem porque se não nos obrigarem nós não damos nada, era o que faltava
É meu
É meu
É meu
Tira a mão daí
Custou-me muito a ganhar
O poder dos impostos é maior do que o poder da monarquia
O poder dos impostos é maior do que o poder da república
Os impostos existem porque não existem ideias melhores
Não é uma prioridade pensar em alternativas aos impostos
Estamos muito bem assim
Ainda se fossemos todos civilizados, mas não somos
Faz como eu
Pagas porque queres
Se os impostos não existissem não existia a fuga aos impostos
A fuga aos impostos ajuda a combater o desemprego
Quando a situação é muito grave
Lá está
É uma prioridade pensar em como vamos recuperar o que é meu
Isso não te pertence
Dá cá
É meu
É meu
É meu
O conceito está muito bem interiorizado por todos e é muito claro
Ou é teu
Ou é meu
Esta fronteira é a mais longa do mundo
SCUT
SCUT
SCUT
Passa para cá isso
Mas isto é meu
Não dou
Não dou
Não dou
Toma
A culpa foi tua
Não destes a bem
Destes a mal
Mas destes ou não destes

Jan 7, 2007

Loustal

A miúda e o mar

-Bom dia marinheiro del sur
-Bom dia, miúda (sem nenhuma razão especial, habituara-se a chamar assim a sua amiga), disse o marinheiro revelando surpresa e, olhando à sua volta, sorriu devagarinho um sorriso misterioso e perguntou:
-Tens um namorado novo?, que é uma brincadeira que o marinheiro del sur gosta de fazer com a sua amiga
A miúda baixou os olhos e disse:
-oh…
O marinheiro del sur aproximou-se da miúda e olhou para ela com o olhar dos pássaros:
-Dormistes aqui!
A miúda, levantando os olhos devagarinho respondeu:
-Vi-o chegar sozinho e vim dormir ao pé de si
O marinheiro del sur deu uma gargalhada clara e a miúda sorriu só de o ver dar essa gargalhada
-Agora já podes contar que dormistes com o marinheiro del sur!, disse o marinheiro ainda a sorrir
-marinheiro del sur?...
-diz
-posso tratar-te por mar?
-por mar?!
-mar são as primeiras letras de marinheiro del sur e também existem na palavra amar
-Estou tramado contigo! disse o marinheiro del sur com ternura. Queres vir tomar o pequeno-almoço comigo? depois tenho que partir.Vou contar-te tudo…
E a miúda seguiu feliz o marinheiro del sur como sempre acontecia quando estavam juntos. Ao princípio o marinheiro gostava de lhe contar todas as aventuras mas um dia descobriu que a miúda às vezes ficava com um olhar triste e vago e desaparecia por algum tempo e agora tem mais cuidado porque não gosta de a magoar.
-Novidades, perguntou o marinheiro del sur à miúda, enquanto partilhavam um belíssimo pequeno-almoço

Jan 6, 2007

Faudel - Mon Pays (Clip)

Florent Pagny - Ma liberté de penser

Jan 5, 2007

R de

"La revolucíon no irá mejor com Coca-Cola…
La revolución te pondrá en el asiento del conductor
La revolución será vivida"
Canción de Gil Scott-Heron

a descobrir no livro "LA PALABRA LIBRE EN LA CIUDAD LIBRE"
de Manuel Vasquez Montalbán

e a quem peço emprestado o título para podermos estar aqui com ele e com outras palavras...livres, sempre. Neste ainda princípio de 2007, o desejo também de que a seguir à moeda única não venha a língua única. Era o que faltava. Nós todos a falar primeiro em inglês, depois em alemão. Não é fácil amar em alemão. A não ser quando temos as asas do desejo, claro…

A palavra livre numa cidade livre

Astérix e o José de Almada Negreiros

“ Astérix fait valoir un Project moderne, une idée universelle à réaliser :celle de la résistance à l’oppression, pour la défense des libertés. Voilá l’idée abstraite, le système de valeur censé définir l’identité collective.
(…)
Astérix défend à l’évidence le principe d’un monde multipolaire, et reconnaît les réalités profondes que sont les nations et les peuples, comme le montrent les différents voyages chez les Bretons, les Helvètes ou les Ibères, qui passent en revue les stéréotypes culturels des identités étrangères. Cette idée de la souveraineté n’est ni agressive ni autarcique et rejoint la conception gaullienne d’une Europe des Nations, pour laquelle l’impératif d’indépendance, qui exclut toute intégration d’un État à un autre, n’empêche nullement la politique d’amitié entre les peuples."
Nicolas Rouvière

"O indivíduo nunca pertenceu a si mesmo. Pertence em absoluto à sua colectividade. E a sua colectividade é a sua própria Terra e mais aquela das cinco partes do mundo onde está a sua terra e mais o mundo inteiro também.
(…)
O destino não é coisa que se saiba pelas sinas, nem obra do acaso, nem artes para adivinhos ou leitores de palmas de mão, nem nada que se modifique com caprichos da fatalidade. O destino de cada indivíduo neste mundo está por cima do seu próprio caso pessoal.
O único procedimento para conhecer o destino de cada qual é este: Vai-se buscar uma esfera terrestre. Faz-se dar voltas ao mundo, e quando passe diante de nós aquela das cinco partes em que se divide a geografia, e que nos parece a mais bonita, procura-se aí com o dedo aquela terra que conhecemos como ninguém e onde entendemos tudo o que lá se diz e pronto, deixa-se ficar o dedo aí. É o dedo do Destino, e nós julgamos que é com o nosso dedo que indicamos no mapa.
E há seis milhões e meio de indivíduos que puseram o dedo no mesmo sítio. Seis milhões e meio de pessoas cujo destino é o mesmo.
E no mapa, exactamente nesse sítio, está escrito: Portugal.
E por cima de Portugal há um grande E, a primeira letra de uma palavra que começa em Portugal e que vai subindo para o Norte sempre em grandes letras, seis grandes letras, seis grandes letras que iluminam as cinco partes do mundo, seis grandes letras que juntam os povos mais independentes do mundo, até onde acaba a Rússia, que é debaixo das seis grandes letras da Europa, aquela terra dos indivíduos que ficam mais longe de Portugal.
E aqui é o destino único de seis milhões e meio de indivíduos neste mundo, aqui na Europa, aqui na Península Ibérica, aqui no sul e aqui no Ocidente da principal das cinco partes da Terra.
«A Europa é a mãe de numerosos filhos. E Goethe, o europeu, quem nos abre os olhos, para que tenhamos a consciência uns dos outros, para que tenhamos vergonha de nos caluniarmos e de nos odiarmos.
Para fazer uma Europa, é necessário uma Alemanha, um Portugal, uma França, uma Espanha, uma Inglaterra, uma Suíça, uma Itália e o resto. Será necessário também uma Ásia, duas Américas, uma África, uma Austrália, negros, vermelhos e amarelos para fazer, um dia, o mundo.
Goethe, poderoso alemão, não pretende que a Europa seja alemã, nem que a França ou a China o venham a ser alguma vez. Para que a Europa seja verdadeiramente ela mesma, é necessário que a Alemanha seja o mais alemã possível, a França o mais francesa que possa, a Espanha o mais espanhola, Portugal o mais português, Inglaterra a mais inglesa, e qualquer outra terra o mais ela própria porque apenas nos seus superlativos, nos seus máximos, nos seus cúmulos é viável o acordo, a colaboração entre os povos independentes e bem contornados pelas fronteiras invulneráveis.» (Goethe, Andres Suares.)
Lisboa, Abril 1932.
José de Almada Negreiros

Jan 3, 2007

Lisboa- Cádiz

o azul largo onde a alma entra em aceleração. a t-shirt branca e doce sobre a pele. o corpo claro a cheirar a manhã e a banho e a véus de aromas secretos e inacabados que nos convidam a beijar ou a guardar o desejo de beijar numa ansiedade que nos acompanhará ao longo da estrada. Lisboa-Cádiz. a chave na ignição. a mão a rodar para a direita. o motor a responder. a cidade branca a acompanhar-nos com as fachadas antigas a mostrarem-se vaidosas em novas arquitecturas de cores que se misturam em riscos largos quando passamos por elas. os gerânios nas janelas abertas a deixar entrar o calor e onde adivinhamos vidas felizes porque gostamos de imaginar vidas felizes nas casas que têm as janelas abertas e gerânios.

Jan 1, 2007

Latitude 0º, Longitude 0º

Idade branca
Como a cidade onde te conheci
Onde desaprendi os hemisférios
Onde esqueci os minutos e os segundos que nos indicam com precisão onde estamos
É Verão aqui