"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

Jul 29, 2007

- Sou eu! Como está? Mas que poucas-vergonhas são estas? Desta vez foi longe de mais!

- Mas, Capitão

- Mas nada! …Desculpe, diga, mas o quê, o quê!!!!!!!

- Eu quero aprofundar o tema dos Amantes. Eu não posso nem quero censurar as pessoas e quando falamos sobre amantes falamos sobre tudo…

- Fala sobretudo sobre o que não deve! Sabe que eu sou um leitor assíduo do seu blog. Leu as nossas aventuras e eu tenho gosto em acompanhar as suas mas não percebe que gente mal intencionada pode interpretar mal essas liberdades de expressão, como vocês hoje em dia tanto gostam de apregoar?

- Com todo o respeito, está a ser conservador, Capitão. Viver já por si é um risco, Capitão, e ao longo da vida, há nossa volta, vai haver sempre gente mal intencionada, como o Capitão diz. Eu agradeço a sua preocupação, sei que é bem intencionada, mas como posso pedir às pessoas que falem de amantes sem falarem de…

- Não diga! Por favor não diga!

- Provavelmente não ia dizer o que o Capitão estava a pensar. Eu acredito no Amor. Sabe isso!

- Sei! Já percebi que se perdeu de amores pelo tal Marinheiro del Sur.

- Capitão, nunca amou?

- Menina, isso é pergunta que se faça? Ora, ora, ora…Bom, tenho que ir embora. Espera-me uma soirée d’Opera com a Srª C… (Que mal fiz eu?) Enfim… Procure ter juízo! Simpatizo consigo. Quer vir? Quando é que me apresenta o seu…

- Amante?

- Amante?!!!!!!!!!!!!!!!! A menina quer dar cabo de mim?

- Mas Amante a sério. Não é como estes amantes que afinal não são amantes!

- Não quero ouvir nem mais uma palavra. Amantes a sério, onde já se viu? O Marinheiro del Sur é casado????!!!!! É isso que me está a tentar dizer?

- Agora sou eu que me vou zangar consigo, Capitão. Adeus!

- Adeus?

- Adeus. Adeus mas não é aquele adeus ponto final, zanguei-me para sempre, vi-me livre de ti, final dramático, é adeus sobre este assunto não me consegue convencer, é mais isso

- A menina estava a precisar de ser internada num colégio de freiras!

- Posso começar já a organizar a minha fuga! Só não é com nenhum padre porque amo profundamente o Marinheiro del Sur e se ele não gostasse um bocadinho de mim até ele achava piada… Sabe que neste livro do Stendhal, “ Le rouge et le noir”, o noir refere-se à batina dos padres?

(O capitão responde espontaneamente)
- e le rouge?

- Eu achava que era à Paixão!

- Não me enerve mais! Está a provocar-me de propósito!

- Estou, normalmente não sou assim, mas também me magoou e eu não me zanguei consigo. Le rouge tem a ver com o sangue, ligado aos soldados, à guerra

- Nada de amores?

- Nada de amores

- Enfim, alguém com juízo, apesar de suspeito! Ele era um bocadinho comunista, não era?


- Ah, não! Desta vez quem vai pessoalmente explicar umas coisinhas à nossa amiga sou eu!


Je t'aime moi non plus

- Sim, uma mulher sem experiência de vida que de repente se sente tomada por uma paixão que nunca tinha experimentado…

- E ele, Mr. Sthendal?

- Para ele a emoção que sentia era prazer, não era paixão…sabe, “j’ai aimé la verité. Où est- elle? Partout hypocrisie…Non, l’homme ne peut se fier à l’homme…Il faut rester inconnu… »

- Um homem não pode deixar falar o seu coração, é isso?

- “Quand la présence continue du danger a éte remplacée par les plaisirs de la civilisation moderne, leur race (des hommes héroiques) a disparu du monde », disse-o Napoleão

- Mr. Sthendal, sabia que, cem anos mais tarde, DH Lawrence abordará de alguma forma as mesmas questões?




- “ Mas o amor, de quando em quando, como um calmante e um reconfortante, era bom”. – Amor? DHL?

- “Não havia lugar para expectativa ou esperança dentro dele”

- A esperança é sobretudo feminina, DHL?

- « Nós somos bolchevistas, embora não digamos a palavra. Pensamos que somos deuses, ou homens iguais a deuses. É como o bolchevismo. Precisamos de ser humanos, possuir um coração e um sexo, senão transformamo-nos em deuses, ou em bolchevistas, porque Deus e bolchevistas são uma e a mesma coisa, demasiado boas para poderem ser verdadeiras"

- Mas então acredita no amor?

- "Criança ingénua! Não, cem vezes não. O amor é outra das coisas imbecis dos nossos dias

- Mas acredita nalguma coisa?

- Eu, sim, intelectualmente acredito que tenho um bom coração, um pénis em boa forma, uma inteligência viva e a coragem de dizer “merda” diante de uma senhora”





- Mas o Guarda, DHL, parece-me diferente dos outros personagens masculinos. Este homem consegue amar?

- “ Naquele momento…daria toda a esperança na eternidade e tudo quanto tivera de bom até agora para a ter com ele e dormirem juntos. Parecia-lhe que a sua única necessidade consistia em dormir abraçado a ela (…) O guarda, à medida que ia amanhecendo, apercebia-se de que não valia a pena fugir à sua solidão. Tinha de viver sozinho para sempre, e, de vez em quando, lá teria uma compensação (…) Cada um podia avançar um passo e, se ela não avançava, ele não a perseguiria. Não devia persegui-la (…) O melhor era ir-se embora e esperar que ela voltasse (…) Voltou para trás lentamente, pensando, aceitando de novo o seu isolamento. Sabia que era melhor assim. Ela iria ter com ele, mas ele não podia andar atrás dela. Não valia a pena”

- Não valia a pena, DHL? ... Diga, diga, Mr, Sthendal

- « Seduzir directamente uma mulher que desejamos é o maior disparate. Se querem agradar a A não se esqueçam de começar por dar todas as atenções a B”

- Mr. Stendhal, É assim que os homens pensam?

- É assim que a maioria dos homens pensam

- Acredita que os homens conhecem bem as mulheres?

- Acredito que a maioria dos homens conhece bem a maioria das mulheres e nem a maioria dos homens nem a maioria das mulheres acreditam no amor

- Eu acredito!

(Mr. Stendhal e DHL riem-se, com um ar superior e tolerante, desvalorizando a minha afirmação, como se fruto de emoções irreflectidas e perguntam ao mesmo tempo:)

- A menina apaixonou-se?

Jul 26, 2007

O Amante de Lady Chatterley

Talvez me tenha enganado em relação ao livro do DH Lawrence. Talvez. Ainda é cedo, não vou dizer em que página estou mas posso dizer que neste momento estou a dar o benefício da dúvida e fico contente por ter decidido ler o livro até ao fim (se gostar muito paro antes do fim mas para isso é preciso a história dar uma grande volta…eu sou uma leitora exigente, D.H. Lawrence!)

Jul 24, 2007

Je t’aime moi non plus

- Stendhal e D. H. Lawrence, bem vindos ao Marinheiro del Sur. Digam!

- “ Mais, se disait-elle, je n’ai jamais éprouvé por mon mari cette sombre folie, qui fait que je ne puis détacher ma pensée de …»

- Amor, Mr. Stendhal ?

A miúda e o mar

- Obrigada Mar, o jantar estava delicioso!
- Ah, bom, muito obrigado, mas então porque é que quase não tocou na comida?
- É o amor, Mar, o amor, o meu estômago fica pequenino….
- E o que é que podemos fazer em relação a isso, Miúda?
- … A miúda fica com um ar pensativo, o Marinheiro del Sur faz de conta que não percebe e diz:
- Vem, deixo-te em casa

- Vem, Mar?
- Não posso, Miúda, não posso

Jul 23, 2007

A miúda e o mar

- Mar!
- Miúda!
- A tua mão…
O Marinheiro del Sur estende a mão em silêncio…
-É bom!
- ai, diz o Marinheiro del Sur a sorrir

- Miúda!
- Mar!
- Queres vir comigo?
- Quero!
- Não me perguntas onde?
- Não!
- Anda

Jul 22, 2007

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Não resisto compro o livro um posfácio razoável de André Malraux um prefácio do autor que não me deixa muito tranquila um livro que já tive vontade de abandonar mais do que uma vez mas que vou ler até ao fim.

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Começo a simpatizar verdadeiramente com a palavra amante o namorado a namorada o marido a mulher o amigo a amiga o amante a amante o amante a amante o amante a amante o amante a amante ele é o meu amante ela é a minha amante hum uma palavra que ainda consegue mexer com o nosso vocabulário afectivo quem é é o meu amante quem é é a minha amante mas então mas então nada somos amantes gostamos um do outro não é obrigatório que existam outros amamo-nos é isso que quer ouvir amamo-nos é por isso que somos amantes bom mas o filme não fala sobre amor não fala sobre amor não fala sobre amor não fala sobre amor não fala sobre amor quando li a crítica pensei que falasse sobre amor mas não faz mal porque é um belíssimo filme para recuperar o tema dos amantes no meu blog.

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Os amantes os amantes os amantes em anexo uma página de jornal com uma crítica do filme amanhã não vou trabalhar vou ver o filme

- Amantes??????????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ela disse amantes?


Jul 18, 2007

A miúda e o mar

- Mar, tu gostas um bocadinho de mim!
- Eu?!
- Sim, tu!
- Finalmente a ganhar confiança em si?
- Sim!
- Eu gosto de amar! Não gosto de ser amado!
- Dissestes amar, Mar?
- Eu? Disse amar, quando? Não me lembro… Ah! Eu disse mar, eu gosto do mar, a maré está cheia, vês?
- Sim! E é bom vê-la assim, cheia, ao pé de ti!
- Estás a começar a falar mais miúda… já reparaste?
A miúda fica envergonhada
- Não queres que eu fale, Mar?
- Quero!
- Não desistas, Mar, por favor, não desistas!
- Não desisto de quê, Miúda? (o Marinheiro del Sur adora criar dificuldades à sua amiga)
- De nós, Mar, de nós!

Jul 17, 2007







Jul 14, 2007

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Jul 10, 2007

Rafael Alberti

"El mar. La mar.
El mar. ¡Sólo la mar!"


Baudelaire, "L'homme et la mer

Homme libre, toujours tu chériras la mer!
La mer est ton miroir, tu contemples ton âme"


A miúda e o mar

- Mar!
- Olá!
- Olá! Mar?
- Diz
- Como é que podemos mostrar que gostamos de uma pessoa?
- Vamos ter com essa pessoa e dizemos que gostamos dela
- EU GOSTO DE TI!
- Tu és terrível! No nosso caso não. Não podemos gostar um do outro…
- Porquê?
- Eu já fui ter contigo para te dizer que gosto de ti?
- Não…! Tu não gostas de mim?
- Eu gosto de muitas pessoas… também gosto de ti…mas não dessa maneira disparatada que tens de gostar de mim e que só te faz mal…
- A mim não me faz mal nenhum! Gostar de ti é bom! É MUITO BOM!
O Marinheiro del Sur disfarça a custo um riso claro e diz com um ar sério:
- Porque é que não viestes ter comigo quando cheguei, há uns dias atrás? Não estavas no porto…Porque é que nessa altura não me viestes dizer que gostavas de mim?
- Porque tive medo que te tivesses apaixonado outra vez e não me quisesses ver…
A Miúda começa a ficar aflita e está quase a fugir dali, a correr, como é seu hábito quanto se sente mais frágil
- Nem penses em fugir desta vez! Vem cá! Dá-me a tua mão…
A Miúda estende a mão, os olhos no chão
- Uma flor!
- É para ti! Trouxe esta flor para ti! Gostas?
- É linda!
Estou a começar a ter ciúmes dessa flor! Nunca me dissestes isso…
A Miúda faz um sorriso malandro e não diz o que está a pensar
- Talvez um dia diga, quem sabe…
- Hoje, Miúda, diz, fala comigo!
- Gostas de mim?
- Impossível não gostar um bocadinho de ti, mas um bocadinho de nada, quase que não é gostar nem um bocadinho… diz o Marinheiro del Sur a olhar com ternura para a sua amiga
- Agora queres que eu me vá embora, não queres?, pergunta a Miúda
- Ficas o tempo que quiseres, eu não te disse para ires embora
- Eu tenho que ir…a flor precisa de água…até logo Mar…

Jul 4, 2007

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Ligo o computador Lady Chatterley fala-me de Lady Chatterley.

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Quando nos aproximamos da casa onde vivo recebo um beijo meigo tão meigo o desenho dos lábios macios tão macios a adivinhar-se aqui aqui aqui a ficar assim tatuado o beijo aqui aqui aqui era raro ele dar um beijo assim mas eu tinha aprendido a guardá-los sabes a guardá-los a guardá-los a guardá-los a casa onde vivo estava iluminada a porta pesada de madeira aberta eles estavam ao fundo à beira mar tinham perdido o medo era bom sento-me nos degraus da varanda a olhar vagamente para eles não estou ali não estou ali não estou ali não estou ali.

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Tinha razão uma festa cruzo-me com pessoas que não estranham a minha presença caminho em direcção à varanda há pessoas na praia também a porta aberta entro directamente para a sala grande diferente hoje com pessoas o cheiro a comida mistura-se com o fumo o cheiro de cada pessoa olho para o tecto uma ventoinha de pás talvez não tivesse reparado naquele dia a sala está quente apesar da corrente de ar está quente aqui de repente gostou da festa que preparei para si gostou gostou gostou gostou gostou sinto-me envergonhada por ter sido apanhada naquela sala naquela festa são seus amigos quem quem quem quem quem queres conhecer diz-me diz-me diz-me diz-me aquele aquele aquele aquele riu-me vou a caminho de casa digo eu também deixa-me contar-te um segredo anda e estendeu-me a mão anda não tenhas medo um quarto no fundo da casa no fundo de um corredor estava fresco as portadas de madeira quase fechadas um fim de tarde antes de um fim de tarde anda anda anda anda anda anda não foi só o grupo de Malta que recebeu ameaças todos os grupos receberam recebeu alguma mensagem minha recebeu o que dizia diga o que dizia o que dizia não oiço não oiço não oiço não oiço não oiço não oiço.

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Não abrando a olhar para ninguém a olhar para nada não sei dizer como cheguei até aqui até à casa antes da casa onde vivo largo a bicicleta e sigo atrás do som uma canção uma voz feminina negra familiar não me admirava de encontrar na sala instrumentos de jazz uma ventoinha de pás no tecto um grupo de amigos a dançar a conversar a beber a comer a apanhar o sol do fim da tarde na varanda da casa antes da casa onde vivo.

9

As horas não passavam um silêncio pesado conversas em voz baixa pelos cantos não que contássemos segredos não havia segredos para contar naquele dia não havia segredos não sabíamos mais nada era por isso que falávamos baixinho com medo de acordar o monstro com medo que ele nos ouvisse com medo que houvesse mais mortes era impossível trabalhar como se nada tivesse acontecido agarro em dois ou três papeis e vou para o terraço coisas em que estou a trabalhar talvez me consiga concentrar lá fora talvez consiga talvez consiga talvez.

Jul 1, 2007



A miúda e o mar

Raspa é um amigo louco da Miúda e do Mar. Nunca teve um tostão. Sobrevive de pequenos biscates, no porto, e acha que o espírito de Raspoutine baixou nele. Conhecedor profundo das aventuras de Corto Maltese, acredita que Hugo Pratt vai regressar para pôr fim ao polémico projecto de publicar novas aventuras do seu herói.

Questionado por um jornalista que lhe coloca a questão de Hugo Pratt ter sempre manifestado a vontade de Corto continuar a viver a sua vida mesmo depois do seu desaparecimento, Raspa diz:

- Eu conheço muito bem o Corto, salvei-lhe muitas vezes a vida, fui considerado o seu “melhor inimigo”, e faço quase tudo por dinheiro por isso posso dizer com propriedade que, se o Corto quisesse publicar mais aventuras não teria aguardado doze anos para o fazer! A amizade que liga Corto a Hugo Pratt não tem preço. Eu tentei propor-lhe esse negócio milhares de vezes, logo a seguir ao desaparecimento de Hugo Pratt e da última vez sabes o que é que o Corto me disse?

- Não

- Repetes outra vez isso, Raspoutine, e és um homem morto!

- Morto, disse eu incrédulo (o Corto também me salvou a vida várias vezes)?

- Acabou-se a nossa amizade! É isso que queres?

O jornalista da rádio local vira as costas a Raspa e vai repetindo para si próprio enquanto se afasta do porto:

- Este gajo é completamente louco…

A miúda e o Mar sorriem enquanto olham para o cartaz com um desenho de Corto, feito pelo Raspa e que ele empunha com um ar orgulhoso de um lado para o outro

Raspoutine, apresentado a Corto por Jack London