"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

Jun 24, 2007


Jun 23, 2007

"…

They say you just believe
In hello and goodbye

They say I shouldn't dream
Of your face in the moon

Let them talk
Let them think what they want to
If it makes them feel happy that way



I know I'll always love you
No matter what they say"

Billie Holiday, They Say


- Descubra o que se está a passar com a nossa amiga comum!

- Mas, Capitão, e é preciso dar um murro na mesa? E a nossa partida de xadrez ?

- Viu as últimas coisas que ela publicou? Viu? Não fazem sentido, não consigo compreender! Eu sou um leitor assíduo, estava a ficar descansado, achava que ela estava a entrar nos eixos, entretida com umas coisas que andava a escrever, e de repente…

- Calma, Capitão, calma, eu vou descobrir…


Jun 18, 2007

A miúda e o mar

- Eu sei o que é levar a um extremo absurdo a ideia de compromisso. Sei o que é morrer assim.

O Marinheiro del Sur olha para a sua amiga com um ar sério

- E sei o que é viver, depois, quando nos conseguimos libertar e começamos a descobrir tudo, pela primeira vez. Sim, pela primeira vez. Os amantes verdadeiros perceberiam o que quero dizer

A miúda olha para o Marinheiro del Sur com um ar sério

- Ah, e sei o que é ter vontade de brincar, os dois nus, à chuva

O Marinheiro del Sur olha para a miúda com um ar sério

- Mas não nos deixemos enganar, Mar, eles não eram dois amantes verdadeiros

- O que é que tu queres dizer com isso, miúda?

- Ela queria ter um filho dela. Isso para mim é uma coisa racional. Um objectivo

O Marinheiro del Sur olha para a miúda com um ar sério

- Tu não queres ter filhos, miúda?

A miúda olha para o Marinheiro del Sur com um ar sério

- Assim, não, Mar

- Mas todos nós precisamos de ter objectivos, miúda. Onde queres estar daqui a dois anos?

- Contigo, no Canadá, se me prometeres que não me abandonas no meio da neve…

- E se eu não te quiser levar para o Canadá, miúda?

- Contigo, quando quiseres estar comigo, onde quiseres estar comigo. Uma única condição…

- Uma condição, miúda?

- Continuarmos a ter uma relação pura e irracional, de amizade ou de amor, mas pura, no meio deste mundo estranho onde vivemos

- Tu és louca, miúda, diz o Marinheiro del Sur, a sorrir

- Por ti, Mar

- Fala-me do filme, do filme, do filme, afinal, estávamos a falar do filme…

Jun 16, 2007









Jun 14, 2007

8

Volto para a sala comum de trabalho e tento muito devagarinho acalmar os meus colegas as minhas mãos tremem precisava dele precisava tanto dele abro o computador sem vontade um mail dele abro a correr um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo no mail estava escrito um beijo mas eu lia sem parar um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo um beijo anh diz diz ajudo claro.

7

Procuro-o procuro-o procuro-o preciso de ti preciso de ti preciso de ti preciso de ti preciso de ti onde estás onde estás ah devem ter ido para Lisboa ela também não está por isso foi por isso que levou o carro isso significa que se passa qualquer coisa muito muito muito grave.

6

Malta uma ilha o amarelo desbotado berço de marinheiros amores aventuras sonhos amizades a língua a roçar a outra língua o sol a cair depressa tão depressa num fim de tarde em Lisboa o encontro há um ano talvez há um ano ele a descobrir a cor castanha avermelhada da rebentação é por isso que chamamos Mar da Palha é por isso “Lisboa Cidade Branca” cidade branca cidade branca foi assim que descobri Lisboa depois fiquei com vontade de vir claro mas ainda não tinha sido possível pai de origem inglesa mãe de origem árabe Malta ali em Lisboa naquele fim de tarde só sabe isso do pai nunca o vi nunca o vi nunca o vi não sei quem é o meu pai guardo dele a imagem de uma pessoa serena bem disposta curiosa a pedir-nos para o ajudar a encontrar um quarto com vista para o Tejo numa residencial ou numa pensão na zona do Cais do Sodré tem que ter uma varanda de ferro este pode ser este as paredes manchadas uma cama de casal no centro um lavatório em frente à cama e dois quadros pendurados um quinto andar sem elevador a colcha e os cortinados da janela encardidos tão encardidos estava feliz foi a única vez que estivemos com ele uma reunião de trabalho em Lisboa depois só por mail.

5

A caminho da reserva de Ghadira lembram-se do projecto “Gebla Maltija” há seis meses para aí tinham começado há seis meses um programa de televisão estavam a trabalhar numa proposta para um programa de televisão “Malta, mãe solteira” entrevistas na rua dariam origem ao aprofundamento das questões em estúdio a influência inglesa árabe o catolicismo as outras religiões a caça as mães solteiras os filhos das mães solteiras o papel estratégico como possível mediadora em conflitos sei lá eles admitiam abordar um pouco todas as questões relacionadas com esta ilha com sonhos continentais ele era filho de uma mãe solteira um tiro quando o projecto arrancou na Internet foram ameaçados não ninguém levou a sério em Malta ninguém estava à espera não se sabe estão a investigar mas eu acho que foi um aviso que foi um aviso um aviso porquê sei lá porquê o poder o dinheiro o dinheiro o dinheiro o dinheiro o dinheiro o poder o poder o poder o poder o poder o poder não é por isso que se mata não é por isso que se mata é então foi por isso que o mataram por enquanto suspenderam o projecto Bruxelas sim foi Bruxelas que decidiu tens um mail do Observatório das Regiões foi assim que soubemos e este gajo queria eu sei lá não já te disse que não há provas de nada mas se não houvesse qualquer coisa Bruxelas não tinha suspendido nada não achas isto é sério tudo bem eu também achei que era um projecto interessante achei achei achei achei tenho família filhos para criar e não nasci para herói não já decidi já não tenho idade para estas coisas e depois pensa lá estamos a falar de um sítio onde as pessoas vivem relativamente bem se pensares em termos relativos e onde estas coisas não costumam acontecer e quem é que foi provocar isto quem foi nós é Bruxelas também deve ter pensado assim.

A miúda e o mar

Sem saberem, numa noite de insónias, o Marinheiro del Sur e a miúda ficam noite dentro, sozinhos, a ver o mesmo filme. Sem conseguirem dormir dirigem-se ambos para a praia ao pé do porto. Quando se encontram, sugestionados ainda pelo enredo dizem ao mesmo tempo:

- Quanto queres para ficar a noite inteira?

Espantados pela frase que acabavam de dizer sem pensar e por a terem dito exactamente ao mesmo tempo, sorriem um sorriso contido meio envergonhado

O Marinheiro del Sur olha para a sua amiga com um olhar mais profundo do que o mar.


Depois, respira fundo e diz:
- Anda miúda, vou-te mostrar o nascer do dia no sítio mais bonito que conheço

- Aqui, Mar, aqui é o sítio mais bonito que conheces?

É, porque estou ao pé de ti


A miúda pensou que não queria acordar daquele sonho, nunca mais

Jun 10, 2007

4

Quando entro no museu do futuro oiço esta canção aos berros e uma discussão de bradar aos céus entre dois colegas um a dizer que isto já era e que ele não estava a ver bem o filme e que vês no que deu o outro já marchou já marchou onde quem tudo bem não foi cá mas qualquer dia é cá estão a armar-se em quê pensam que podem mudar o mundo os gajos têm isto tudo na mão que ingénuos porra.

3

“Viemos com o peso do passado e da semente/ Esperar tantos anos torna tudo mais urgente/ e a sede de uma espera só se estanca na torrente/ e a sede de uma espera só se estanca na torrente/ Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada/ Só quer a vida cheia quem teve a vida parada/ Só quer a vida cheia quem teve a vida parada/ Só há liberdade a sério quando houver/ A paz, o pão, habitação, saúde, educação/ Só há liberdade a sério quando houver/ Liberdade de mudar e decidir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir”

2

Aqui e ali pessoas que se dirigem para as praias a maioria das pessoas estão cá de férias moram em cidades grandes algumas noutros países há pessoas que moram atrás daquela serra da serra atrás de mim atrás daquela serra há dois anos havia miúdos que nunca tinham visto o mar lembro-me dos olhos dele redondos a olhar para mim a ouvir-me falar do mar a perguntar se o mar falava e eu a dizer que sim que o mar falava os pais a expulsarem-me dali a dizerem que os filhos não podiam sonhar não podiam haviam de ter uma vida igual às deles que era maldade ensinar as crianças a sonhar que nunca iriam à escola e eu a pensar nas casas de férias fechadas em frente ao mar com a serra por trás a pensar o caraças se este miúdo não vai para a escola e depois a pensar em todos os miúdos e depois a pensar se é assim que mudamos o mundo e depois a pensar quero lá saber se esta é uma medida de fundo de meio fundo ou à superfície estes miúdos para o ano estão todos na escola e estão estão estão.

1

Os teus amigos chegaram bem quanto tempo vão ficar chegaram bem penso que dois dias dois dias dois dias queres conhecê-los não não não não não é melhor não eu não pergunto como é que ele sabe que eles estão ali na casa onde vivo não pergunto não pergunto vamos juntos de bicicleta arranjo coragem para perguntar não hoje preciso de levar o carro eu não pergunto mais nada não pergunto mais nada como é que eu vou sair da água não me lembrei que era preciso sair da água dê-me a sua mão dá-me a tua mão agora eu fecho os olhos e tu levas-me tu levas-me eu sorrio agora eu tenho que ir embora e tu também tens que te despachar eu chego a horas eu chego obrigado pela companhia obrigada

Jun 9, 2007


II

Seis da manhã levanto-me enfio o fato de banho branco as calças a tee-shirt banca a preta não agora não ainda estão todos a dormir abro com cuidado a porta pesada de madeira azul com cuidado depois deixo-a aberta o mar à minha frente azul sereno tão sereno o mar àquela hora bom dia não se quer despir uma voz conhecida tão conhecida ai todos ainda a dormir menos nós a praia eu com o olhar perdido ainda sentada à beira mar já tinha olhado já tinha olhado já tinha olhado depois olhei para a frente para o mar onde estava onde estava onde estava a mão estendida a convidar-me a levantar está a pedir a minha mão consegui brincar ah estou a convidá-la a despir-se as sandálias castanhas olho devagar as suas sandálias castanhas os calções azuis azuis azuis a tee-shirt branca demoro a olhar a olhar a olhar tão bonito tão bonito pensei depois baixei de novo os olhos e agarrei a mão dele como se como se como se despir-me não agora não agora agora não está com vergonha de mim não tenha eu dispo-me também e tirou a tee-shirt venha não ia dar um mergulho venha comigo quer que eu me vá embora não não não não não não não não não não porque é que não me está a tratar por tu porque tu também não me tratas por tu queres tratar-me por tu quero quero quero quero quero então trata trata trata trata por favor e despe-te eu não olho não trazes nada por baixo estou a brincar vá eu não olho tu tiras as calças e a tee-shirt eu estou ali na água à tua espera ou queres ir comigo os dois de mão dada assim eu não olho não vejo nada anda a água está boa anda não tenhas vergonha sabes que eu também tenho vergonha está bem vamos de mão dada de mão dada de mão dada ai é bom.

Jun 7, 2007

9

Do lado direito do lado direito não é o nosso canto uma fogueira ao fundo lá ao fundo ao longe à esquerda perto da casa onde ele vive ai aqui aqui estou aqui trabalho amanhã trabalho mas não se preocupem ah tudo começou com uma tese de doutoramento uma ideia maluca que surgiu depois da leitura de um livro do Montálban uma amiga geógrafa na Índia um geógrafo não agora estou a falar do livro ele estava a desenhar ou a redesenhar o mapa mundo das religiões para a Opus Dei qualquer coisa assim bom a questão que se levanta é a da verdade dos mapas que se fazem ou da História se quiserem estão ou não estão condicionados pelos interesses económicos políticos eterecetera a tese está muito bem feita eu acho um belíssimo trabalho não é chata não é nada chata na sequência disso foi convidada para trabalhar no Observatório das Regiões europeu sim europeu um projecto à margem de certa maneira à margem um grupo com piada enquanto conseguir manter os resultados o Observatório tem autonomia e pronto a ideia é deixarmos provas para depois a Opus Dei não poder dizer a sério está bem eu falo a sério o Observatório está a desenhar mapas on line com grupos de trabalho em simultâneo nos vinte e sete países a ideia é ao mesmo tempo que é feito o levantamento actualizado de cada região provocar o desenvolvimento da mesma nós começámos há dois anos com um trabalho de campo “O que é que te apetece fazer amanhã” mas vamos para o pátio as tostas mistas já conto já conto.

8

Os lençóis a cheirar a lavados frescos a saber bem nas noites quentes de verão a serem atirados a abrir o meio aqui mais para ali assim as rugas aqui e ali esticadas não só uma colcha por cima um aconchego leve deixo um cobertor aqui montar a tenda é preciso montar a tenda à hora a que chegam não lhes apetece montar nenhuma tenda de qualquer modo o quarto também está preparado as toalhas esqueço-me sempre de qualquer coisa se quiserem dormir ao relento podem dormir ao relento mesmo na praia não é perigoso não não é perigoso não é perigoso.
Não estas canções não agora não o que estará a dar na televisão os amantes preciso de decidir a porta a porta estão a tocar à porta que horas são meia noite e vinte olá sejam bem vindos entrem entrem não se perderam sim é fácil é fácil identificar a casa não os ouvi chegar já vamos buscar eu ajudo é é muito bonita ah é uma história que demorava muitos dias a contar não não é minha continuo igual eu sei os meus mistérios deixem os andar à vontade não não precisas de fechar a porta não tenhas medo aqui não precisas de ter medo a sério vamos pelo pátio por aqui é mais fácil deixaram o carro ali é este pátio é fantástico cheio de cantos e ao mesmo tempo amplo com espaço por aí por aí por aí sim o vosso quarto é ali já lá vamos à direita a luz está à direita essa porta branca está fechada espera a chave chumbo eu diria chumbo não estou a brincar estou a brincar eu vou à frente pensei que gostavam de ficar aqui mas podem escolher outro quarto podem claro deixem os dormir na tenda quem tem fome não dão trabalho nenhum podem descansar um bocadinho refrescarem-se eu vou pondo a mesa cá fora comemos cá fora acham bem está muito agradável esta aragem sabe bem sabe bem sabe bem vêm a toalha já tinha começado a por a mesa é bonita aqueles veios brancos o laranja as luzes estejam à vontade.
Ah ajuda-me só a escolher um vinho apetece-vos um vinho o primeiro copo na varanda sabe bem o primeiro copo na varanda eu não devia beber mais vinho tostas mistas os miúdos gostam de tostas mistas não gostam obrigada até já.

A miúda e o mar

- Mar! Mar!
- Olá!
- Sabes que quando eu sonho…
- Tu estás sempre a sonhar miúda…
- …contigo…
- Tu sonhas comigo?! E o teu namorado sabe?
- oh…deixa-me acabar…primeiro também fazes de conta que eu não significo nada para ti mas depois sorris com aquele sorriso que fazes quando estás sozinho e eu fico contente a achar que gostas um bocadinho de mim….
- Miúda, a prova, finalmente a prova! Finalmente podemos ser de novo amigos! (O Marinheiro del Sur quase abriu os braços e correu para apertar a miúda contra si mas conteve-se a tempo e a miúda não percebeu que ele já tinha muitas saudades dela)
- A prova? Que prova?
- Tu não estás apaixonada por mim!
- Não estou apaixonada por ti?
- Não!!!!!!!!! Eu não sou assim! Tu significas muito pouco para mim! Meia hora às vezes, quando me lembro de ti, ou quando apareces, ou aparecias, agora não te tenho visto…
- Mau! Estás a ser mau!
- Não estou a ser mau, eu sou mau, já te tinha dito. Vai-te embora. Deixa-me em paz. Adeus Miúda.
- Mas nem sequer podemos ser amigos, Mar?
- Podemos, quando deixares de sonhar comigo!
- Já deixei, Mar, nem me lembro da última vez que sonhei contigo…
O Marinheiro del Sur sorriu um sorriso discreto e disse:
- Agora tenho que ir embora. Vou ter com os meus amigos. Adeus Miúda…