"HOMME LIBRE. TOUJOURS TU CHÉRIRAS LA MER"

May 25, 2007

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A casa tem uma varanda não faço ideia se está alguém nessa varanda se está alguém perto das janelas não faço ideia o que faço aqui tão próximo de espreitar uma casa que ainda não é a casa onde vivo a casa onde vivo é a seguir mais perto da curva uma pedra vou colocar-me em cima da pedra para espreitar escolhi a janela ai este cheiro este calor esta ária o mar tão perto este final de dia que maluqueira uma sala enorme com móveis desirmanados e antigos dispersos por cantos e paredes dois grandes tapetes em tons de vermelho usado o chão em madeira a luz a brincar num jogo de sombras e claridades envolventes densas o pó em desenhos verticais aqui e ali um cheiro a misturas perigosas de tão boas a convidar a provar quero entrar quero entrar quero entrar neste momento já tenho o olhar esquecido de não estar a olhar para a casa onde vivo.
Ninguém, não vejo ninguém nem um movimento nem uma sombra nem ninguém a olhar para mim e a expulsar-me desta casa que não é a casa onde vivo salto para o chão e aproximo-me de novo da estrada os miúdos continuo acompanhada principalmente por miúdos adoro quando ele veste estas calças castanhas leves a camisa branca sem gravata vou atrás dele guardo alguns metros de distância vou a olhar para ele o casaco no ombro a camisa branca também sai pela cintura do lado esquerdo do lado esquerdo a esta hora é bom sentir uma aragem a percorrer-nos é bom as mangas dobradas para cima até à curva do braço o relógio redondo hoje está com o relógio redondo os sapatos castanhos ainda se ouve a ária caminhamos descontraídos a esta hora neste caminho é impossível não caminharmos descontraídos.
Continuação de um dia bom, digo baixinho a sorrir antes de virar para a direita eu viro para a direita antes dele talvez amanhã vá atrás dele o caminho para a casa onde vivo ainda não está arranjado mas tem o desenho de um caminho tem areia e pedras pequeninas que se sentem nos pés quando andamos a casa tem um único piso e tem uma varanda com cinco degraus que dá directamente para a praia com cinco degraus gosto de me sentar nos degraus às vezes.
A casa onde vivo está pintada de branco e tem um grafiti há muito tempo que tem um grafiti uma onda azul com a curva suave e grande para dentro a desenhar uma superfície sólida e polida de tão perfeita fresca por dentro a apetecer tocar aquela parede e a espuma branca por cima a confundir-se com a cor branca da parede ninguém está a surfar aquela onda não é preciso somos nós que sarfamos aquela onda quando a olhamos assim na parede da casa onde vivo a onda está na parede do lado esquerdo no sentido da praia não não fui eu devem ter sido os miúdos mas eu deixei ficar a casa inspirada no conceito das casas por dentro todas as divisões viradas para um pátio interior o pátio interior com um lance de escadas que dá acesso a um terraço sobre as divisões em baixo a varanda comprida sobre a praia os cinco degraus a porta de entrada de madeira azul escuro pesada a porta a tinta a estalar aqui e ali.
Sigo pelo caminho até ele se confundir com a areia com a praia com a praia o mar azul a casa onde vivo descalço-me sem pensar que me estou a descalçar a areia está quente é branca a areia contorno a casa pela praia sem me voltar para ela não olho para a onda olho para o mar a maré está baixa a água vem repousar na areia com uma ternura fresca num vai vem doce com a mão direita vou empurrando os collant para baixo em gestos quase de desequilíbrio ah a pele nua sobre a areia sinto a presença da casa atrás mas não a olho guardo o olhar para depois quando já não aguentar mais não olhar gostava claro que gostava que estivesse na varanda quando me voltasse gostava claro mas sei que não está mas só vou ter a certeza quando me voltar por enquanto olho o mar com a esperança de que ele esteja na varanda.

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